Interpretando quatro personagens em “Anjos”, Marcus Anoli fala da carreira e novos projetos
O ator e bailarino Marcus Anoli começou 2021 com uma nova empreitada, a temporada virtual do espetáculo ‘Anjos’. A produção tem performance transmitida, sempre ao vivo, todas às quintas às 20h na plataforma Zoom até 18 de abril para todos os países de língua portuguesa.
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O goiano, da cidade de Anápolis, faz dupla com a atriz Sabrina Fortes na peça escrita e dirigida por Oscar Calixto e que conta a história do personagem Marcus (Marcus Anoli) e Sabrina (Sabrina Fortes), um casal que vive uma séria crise no relacionamento e acompanha todos os seus desdobramentos.
Na trama Marcus faz quatro personagens e diz que se divertiu com as peculiaridades de cada um, indo de marido ao demônio. Confira a entrevista:
No início deste ano, o público recebeu nos teatros o espetáculo “Anjos” que foi diretamente apresentado por videoconferência. Devido a pandemia, essa técnica tem se tornado muito popular. Como foi a adaptação para esse novo meio que se afasta tanto dos palcos como da própria estrutura da televisão?
Marcus: Não creio que se afaste dos palcos, da TV sim, mas tem uma aproximação imensa com a linguagem cinematográfica, tudo depende da concepção do diretor. Nós na B&C Produções Artísticas prefiramos chamar de “Cine Teatro Virtual”. De início fiquei meio perdido, pois estava pensando no teatro formal, aos poucos com as orientações do diretor Oscar Calixto fui descobrindo uma gama de possibilidades, ainda está sendo um processo de descobertas incríveis.
Sendo um projeto com um elenco pequeno, formado pela atriz Sabrina Fortes, que faz sua parceira romântica na história. Como se desenvolveu a química de vocês nas cenas? O fato da plateia não estar ali presencialmente trazendo o movimento humano interfere muito no desempenho do ator?
Marcus: Não fazemos um par romântico, até porque a peça conta a história do fim da relação entre Sabrina e Marcus. Conheci Sabrina virtualmente e só a vi pessoalmente uma vez. Esse trabalho me deu a oportunidade de desenvolver muito minha percepção sensorial, criar uma atmosfera e o mais importante, passei a ouvir e reagir, parece óbvio essa questão de ouvir e reagir, mas só fui entender de fato isso com esse trabalho, pois só em alguns momentos vejo Sabrina e com isso tive que aguçar a percepção, o ouvir. A química não foi criada com o olho no olho, mas com o ouvir, sentir o outro atrás da voz e isso traz o frescor a cada apresentação, a peça não é gravada, todas as quintas fazemos ao vivo.
Durante a apresentação, o relacionamento dos personagens traz situações cotidianas, como as crises de relacionamentos. Em muitos casos, o teatro costuma gerar sentimentos variados na plateia. Esse estilo que traz a comédia romântica no enredo tem sido uma boa pedida para a época em que estamos vivendo?
Marcus: A peça é mais tragicomédia que comédia romântica. Nesse momento abordar temas como crise conjugal, angústia, loucura, suicídio é bem delicado, mas nossa abordagem traz com leveza esse questionamento. A vida já está tão pesada e a morte está tão presente creio que o teatro traz uma válvula de escape para suportarmos esse peso, e creio que nossa abordagem traz esse momento pra quem esta assistido.
A ideia desse espetáculo veio a partir da criação do grupo de estudos “Assembleia dos Ratos” com o professor Arnaldo Marques. De onde veio a aproximação dessa união e a partir de que ponto teve início o conceito da obra?
Marcus: A Assembleia dos Ratos não tem nada haver com essa ideia. A Assembleia foi um grupo que se formou para estudos teatrais. A ideia veio do treinamento para atores que eu faço com Oscar Calixto, diretor da peça. Numa das discussões no treinamento falávamos sobre o teatro virtual e queríamos algo diferente do teatro tradicional filmado, como ele também é um homem do cinema decidiu associar a linguagem cinematográfica e o resultado disso foi “ANJOS” que já foi vista por quase todos os estados brasileiros e já alcançamos repercussão internacional, a peça já foi vista em mais de oito países, não só os de língua portuguesa.
Na trama, você faz quatro personagens indo de marido ao demônio. Como tem sido interpretar cada um deles e quais são as maiores peculiaridades de cada um?
Marcus: O marido é até tranquilo, já estamos acostumados e compreendemos bem relações matrimoniais, o mais difícil foi trazer a humanidade para o demônio, é muito fácil cair na caricatura, mas a condução perspicaz do diretor foi me levando a caminhos minuciosos da construção de cada um e associado ao treinamento que eu já vinha desenvolvendo com Oscar Calixto fui ligando o que aprendia no treinamento com o fazer da peça e fui tendo segurança pra me arriscar e deu nesses quatro personagens incríveis.
Nos conte um pouco sobre quem é Marcus Anoli.
Marcus: Quem eu sou é a pergunta que me faço todos os dias, mas creio que um ser humano cheio de conflitos, angústias e muito amor e que encontra na arte uma maneira de se expressar. Sou um homem das artes e tenho certeza de uma coisa, preciso das artes como preciso de oxigênio.
Sabemos que muitas pessoas chegam a sonhar com a carreira artística, mas acabam desistindo no meio do caminho. Esse sentimento já passou alguma vez na sua mente? O que o inspira a continuar na arte?
Marcus: No interior de Goiás por volta dos 11 anos, início dos anos 80 comecei a dançar e sofri o preconceito na escola, em casa e mesmo assim persisti. Você tem noção do que é morar no interior de Goiás, em família de não artistas e nascer artista? A maioria das pessoas não têm, acha que é só decorar um textinho e ser desinibido. Acho que ser artista é persistir, não é um carreira rentável, pelo contrário é uma das carreiras mais caras que existem, estamos sempre estudando dança, interpretação, circo, canto, história, filosofia, psicologia e tantas outras coisas que envolvem essa carreira. A formação é cara e constante, até o fim da vida. A maioria das pessoas quando se deparam com as dificuldades e entendem que ser artista é um ofício, uma profissão e que demanda muita dedicação que se trabalha muito e que a maioria de nós não teremos salários milionários, por mais que ame fazer arte vão para um ofício que lhes garanta ao menos o plano de saúde. Arte não é glamour é trabalho duro. Nunca pensei em desistir, persisto.
Em uma afirmação, você disse que o papel que mais te marcou foi “Hamlet” com Diogo Vilela. Qual foi a circunstância que o levou a ter esse papel como um dos mais importantes da sua carreira?
Marcus: O trabalho que mais me marcou foi em Hamlet. Não fui Hamlet, o Diogo era o Hamlet. Foi a primeira grande produção que participei aqui no Rio, com atores que eram minhas referências artísticas. Tive essa oportunidade através de Marcus Alvisi, que já havia me dirigido antes. Acredito que quando você tem potencial, trabalha duro e se dedica as pessoas reconhecem e apostam em você. Fiz vários papéis pequenos nessa peça, e o aprendizado foi riquíssimo pois, se tiver humildade e estar numa peça com histórias vivas do teatro e televisão brasileira você só tem a ganhar não só como ator, mas principalmente como ser humano.
Você também já trabalhou com projetos audiovisuais como o curta-metragem “ENTRE”, que recebeu o prêmio de melhor ator. Existe algum novo projeto em mente que será realizado por agora?
Marcus: Sim, vários. Essa nova porta que se abriu com o teatro virtual me trouxe muito prazer e quero continuar fazendo. Estou iniciando a produção de um documentário na Amazônia e quero investir em curtas. Vejo muito potencial em curta metragem.
Autor
Andrezza Barros